SKATERS

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Concepção e direcção: John Romão
Com os skaters: André Silva, Carlos Semedo, David McKay, Hugo Santiago, João Cardoso, João Martins, João Maria, Manuel Liebaut, Miguel Fonseca, Nuno Pina
Direcção musical: Miguel Fonseca
Desenho de luz: Cláudia Rodrigues
Desenho de som: Jorge Pina
Vídeos: Carlos Conceição com John Romão
Design de projecções: Joana Areal
Assistência de direcção: Solange Freitas
Assistência de movimento: Maria João Garcia
Fotografia: Jorge Padeiro
Grafismo: André Brás
Co-produção: Murmuriu e Ninho de Víboras
Apoios: Câmara Municipal de Almada

29 Fevereiro 2008
Fórum Municipal Romeu Correia (Almada)
(espectáculo de abertura da Quinzena da Juventude de Almada)

O que implica transferir os skaters que vemos na rua para o palco? O que implica ter skaters em cena e não actores que finjam saber praticar skate? Como conceber um objecto teatral com elementos que não pertencem ao teatro? Parece-me que alguém que cai e se levanta constantemente e que desliza pelo espaço sem tocar a terra, é uma óptima metáfora para falar do homem contemporâneo.

O teatro é feito com actores?
Há 4 anos comecei a desenvolver uma ideia que tenho vindo a explorar nas minhas criações: a utilização de indivíduos pertencentes a subgrupos sociais ou marginais em cena, a quem eu chamava ready-mades dinâmicos e, agora, prefiro apenas chamar estrangeiros. Não são quaisquer pessoas, gente com fisicalidade e profissões curiosas ou freaks, por quem se interessam algumas companhias artísticas. Isso não me diz nada. Aborrece-me. O que aqui está em causa são indivíduos que existem sob a forma de colectivo, de comunidade, cuja imagem a eles associada está dependente de outros similares. Aliás, quanto mais banal ou tradicional for a sua actividade, melhor. Exemplos: uma banda filarmónica ou um travesti (Why can i be me, 2005-2006). Ainda que estes dois possuam uma qualidade cénica, de palco, não pertencem ao Teatro. Temos ideias pré-concebidas para cada um deles. Temos expectativas. Temos desejos. São elementos que vivem na sombra. Não estão expostos comummente ao real. Já com os skaters, muitas vezes vistos como “marginais” (de roupas caras), longe de serem freaks (apesar da insistência), estão totalmente afastados da cena teatral, embora também “actuem” para um público. Sabemos à partida quem são, sem nunca os termos conhecido.
Esta é a primeira vez que utilizo em cena apenas indivíduos que não são do Teatro. Em criações anteriores, Why can i be me (2005-2006), Please be my friend (2006), ou mesmo na última, A direcção do sangue (2008), havia actores que se confrontavam com os tais estrangeiros. Neste caso, em Skaters, pareceu-me claro: não podia ter nenhum actor em cena. Nenhum corpo que soubesse habitar a cena, que soubesse proteger-se com técnicas ou truques, que soubesse fingir.
E eu pergunto: o que implica deslocar os skaters que vemos na rua, na Praça da Liberdade (em Almada), para o palco? O que implica ter skaters em cena e não actores que finjam saber praticar skate? Como conceber um objecto teatral com elementos que não pertencem ao teatro? Gosto de subversão dos seus movimentos, da adaptação ao desconhecido, ao que não dominam, procurando uma ambiguidade do gesto e da acção. Os seus corpos são confrontados com novas situações. Da mesma forma que os espectadores também são confrontados com novas propostas do reconhecível.
Porque é que há pessoas, acções e gestos que não nos dizem nada quando acontecem fora do espaço teatral da cena? A única hipótese que se pode criar prende-se com a dimensão profundamente sagrada da cena. Não que ela rivalize com os ritos e cerimónias religiosas, mas porque nela se ritualiza e sacraliza um momento. O teatro que faço não imita a vida, mas extrai dela a energia de um verdadeiro espaço sagrado. Nos meus trabalhos, tal como em Skaters, o que se passa em cena são momentos de vida que estão a suceder nesse momento, que não são de representação.
John Romão